Os produtores de leite estão organizando uma mobilização nacional para o próximo dia 11, para aumentar a pressão e cobrar ações do governo federal em socorro ao setor, que definha pressionado por importações de lácteos do Mercosul e pela desvalorização do produto nacional. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) cancelou protestos previstos para a semana passada, esperando anúncios da comitiva federal que veio ao Estado para avaliar os estragos das cheias com a promessa de medidas caso a caso. Na segunda-feira, o governo federal fez uma live no YouTube em que prometia o anúncio das medidas, mas acabou enfurecendo os produtores pela ausência de ações concretas.
“O que temos visto do governo são algumas trapalhadas. A live dos dois ministros, da Agricultura (Carlos Fávaro) e do Desenvolvimento Agrário (Paulo Teixeira), foi vergonhosa, porque não trouxeram nada. Precisamos que o governo pare com palhaçada de fazer reunião e vídeo e não anunciar nada”, afirmou o presidente da Fetag-RS, Carlos Joel da Silva.
Sem apoio do governo federal, o produtor de leite brasileiro ainda precisou suportar a queda de valor de seu produto. Conforme o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, em agosto o preço médio do leite cru captado por laticínios registou a quarta queda mensal consecutiva, recuando 6,8% frente a julho e passando para R$ 2,25/litro na “média Brasil” líquida. O valor é 29,4% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. Com o resultado, a queda real é de 13,6% desde o início deste ano.
Conforme Joel, o produtor vive uma situação precária e está vendendo leite abaixo do custo de produção, a R$ 1,98, em média, por litro. “Temos nota de produtor que vendeu a R$ 1,04”, destaca Joel. Segundo o presidente da Fetag-RS, enquanto o Brasil demonstra dificuldades para ajudar o produtor, na Argentina há subsídios diretos que este ano chegaram, em média, a R$ 90 mil por produtor. “Qual é o produtor brasileiro que teve R$ 90 mil de lucro este ano?”, questiona.
Para o dirigente, a subvenção é a única solução para o segmento, considerando que o governo afirma que não pode trancar as importações do Mercosul. “A Argentina está mostrando como fazer para manter os produtores vivos, é só o Brasil copiar e subsidiar o produtor”, defende Joel, que tem insistido neste ponto. “Mas parece que o governo está com o ouvido tapado e não consegue enxergar a realidade que está na frente do olho dele. Os produtores não aguentam mais esperar, nem ouvir palhaçadas de anúncios que não resolvem a sua vida.”
CP
Foto: Eduardo Oliveira / Divulgação Fetag-RS/ CP