O Tribunal do Júri constituído para julgar Fabiano Kipper Mai chegou ao veredito de culpado na noite desta quinta-feira (10) depois de dois dias de intensa mobilização de autoridades e da comunidade assolada pelos acontecimentos do dia 4 de maio de 2021, quando ele invadiu uma creche no município de Saudades, em Santa Catarina, e matou três bebês e duas professoras com um facão. A sentença de 329 anos e quatro meses de prisão foi proferida pelo juiz Caio Lemgruber Taborda.
O julgamento teve início na quarta-feira (9) e foi marcado por momentos de profunda comoção pela presença, no fórum da comarca de Pinhalzinho, de familiares de vítimas e sobreviventes do ataque.
A condenação abarca os cinco homicídios, triplamente qualificados por motivo torpe, uso de meio cruel, emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima, além das 14 tentativas de homicídio praticadas na ocasião.
O réu também foi condenado ao pagamento de indenização às vítimas, cujo valores foram fixados em R$ 500 mil para cada família de vítima falecida, R$ 400 mil para a família do bebê que foi socorrido a tempo de se recuperar e R$ 40 mil para cada uma das 14 vítimas de tentativa de homicídio. Cabe recurso da decisão.
A sentença foi longa e complexa. Detalhes dos crimes foram discutidos durante a votação dos quesitos. Foram 145 perguntas explicadas pelo juiz para resposta dos jurados. As análises do conselho popular embasaram a elaboração da sentença.
— Foi um processo bastante trabalhoso, que demandou muito empenho de toda a equipe da unidade, mas hoje chegamos ao fim com a satisfação de um júri em que a ordem foi mantida por todos os envolvidos, tanto profissionalmente quanto como espectadores. Com a colaboração dos representantes da acusação, da defesa e, principalmente, dos jurados conseguimos imprimir agilidade aos trabalhos, sem a necessidade de estender o julgamento por mais dias. Hoje, a comunidade de Saudades teve a resposta do Poder Judiciário em relação a esse caso que marcou a história da nossa comarca, pouco mais de dois anos após a ocorrência do crime — apontou o magistrado.
A leitura da sentença causou mais um momento de fortes emoções, para ambas as partes. Os familiares e amigos das vítimas foram novamente às lágrimas, dessa vez pelo alívio do final da etapa judicial. Os pais do acusado, que acompanharam o júri do início ao fim, sofreram abalo emocional. Ainda à tarde, eles foram levados ao hospital local por apresentarem picos de pressão alta.
Para o promotor de Justiça Bruno Poerschke Vieira, a pena grave decorre de um crime qualificado por ele como “bárbaro e cruel”.
— Hoje podemos dar um alento a estas famílias e um exemplo para toda a sociedade para que crimes como este não voltem a acontecer — pontuou o promotor.
Advogado de defesa de Mai, Demetryus Grapiglia informou que não poderia se manifestar por estar acompanhando o atendimento de saúde aos pais de seu representado.
Uma das professoras sobreviventes, ouvida ao final do julgamento, comentou que, embora a condenação seja incapaz de restaurar as vidas perdidas e apagar as “memórias terríveis” que carrega, o desfecho traz “sensação de segurança para o convívio” em sua comunidade.
FONTE: CP
FOTO: Tribunal de Justiça de Santa Catarina / Divulgação